7.31.2009

Do lado da Ala-B



Desaguada
Carícia dentária
Desenfeijoada em desprateada meia-lua de xima

Do lado da Ala-B
Qual sol se atreva na treva!

Sinto saudade de mim...


Amin Nordine
Moçambique

Amor Bastante



quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante


Paulo Leminski
Brasil

Tem o cheiro do Verão quando amanhece



Tem o cheiro do Verão quando amanhece
E dos seus olhos, onde é sempre dia,
desprende-se uma luz que me deslumbra.
Ao caminhar, em seu redor parece
que o ar se faz de sol e maresia
sem a mais leve réstia de penumbra.
E eis que em desafio serpenteia
onde o mar vem deitar-se com a areia.


Torquato da Luz

7.30.2009


Canção desesperada




Vento que vais passar
Pelos loucos cabeços nus,
Que trazes para contar
Sobre a Noite ou sobre a Luz?

Sol que incendeias a terra
Toda nua e resignada,
Que nos trazes dessa guerra
Sem esperança desejada?

Lua, erma e abandonada
Nos confins do abandono,
Que trazes ,assim calada,
Para além de morte e sono?
- Jaz a terra de bruços
Não canta água na pedra:
Só se ouvem soluços
Da desgraça que medra...

António Cardoso (poeta angolano)

O girassol


O brilho inteiro das galáxias
a latejar no girassol
enfurecido
desdobrando-se em arco-íris
para a morte sobrevivida
entre os gomos do canto.
Um barco é uma faca que rasga
essas dunas cheias de sortilégios
e de luz as salpica.
Reapetece.
A asa fresca da madrugada
encrespará levemente
dos corpos nus a seda
para outra vez.


Julius Kazembe
Moçambique

7.29.2009

o profeta anuncia os personagens


o profeta anuncia os personagens
por ordem alfabética
e vira as ampulhetas o futuro é o último sangue
ainda não derramado

pouparão as muralhas os meus olhos em alvo

por eles me fiz náufrago no dorso das areias
por elas o meu peito aguarda que o resgatem

todo o olhar
é um rio
que brota para dentro e mancha o coração o profeta
é um manto tecedor de oráculos
e nós quem o sustem acima do destino


Carlos Nogueira Pinto

Se quiseres que eu me perca


Se quiseres que eu me perca,
buscarei outra ilha.
Esperarei a sombra diante dos olhos,
o milhafre na ravina de crisântemos.
Ao longe, correndo para a primeira luz do dia,
estarei à tua espera,
acenando com a mão esquerda,
avançando sobre o mar.
Não te esqueças,
aprendi um dia como deus nos traz um sono
leve que nos cega.


Rui Cóias

Amor é Síntese



Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.


Mário Quintana
Brasil

Mulher



Procurei palavras bonitas
Palavras caras e raras
Palavras de dicionário
Palavras que só os doutores sabem dizer
Para falar de ti, mulher
E não encontrei

Perguntei ao vento ao fogo e ao mar
À terra, ao tempo e espreitei no ar
Buscando alguém,
alguma coisa
Que me dissesse o teu nome
Para eu falar de ti, mulher
E ninguém me respondeu

Então, vasculhei sentimentos e atitudes
E no fundo de cada um
Descobri as tuas pegadas
Por vezes longínquas,
Outras vezes ténues
Mas sempre presentes
numa caminhada perene, penosa

por fim encontrei-te.
Encontrei-te no rosto das crianças
que geraste e criaste
No amor que criaste com grãos de dor
Na esperança que semeaste
em pedaços de desespero
Em feridas que curaste
com lágrimas escondidas
Para não mostrar a face

Encontrei-te
nas bocas saciadas da família
Em pedaços de percurso
entre caminhões e fronteiras

Encontrei-te
também no sono reparador do teu lar
Que semeaste em cada viagem arriscada
A pé, de chapa ou de boleia
Entre insultos, violência e abusos
respondes com um sorriso

Encontrei-te nesse amor que só tu sabes cultivar
Nos ombros que emprestas a quem precisa de chorar
Encontrei-te nesse amálgama de emoções
Que vives em cada dia
E que transformas num olhar

Mas vi também pegadas recentes
Nas salas de trabalho de políticos e cientistas
Reconheci-te com microfones falando para multidões
Descobri que já começaste a consolidar espaços novos
Nas tecnologias, nas decisões e nos espaços nobres
Nas empresas que algumas já te pertencem
Até condenas criminosos em salas de audiência.

Num momento de pausa
Encontrei-te sozinha com o olhar iluminado
E perguntei-te o teu nome
Respondes: Sou mulher


Fátima Langa
Moçambique

Canção sexta



Tanto o pó de outro dia destruíra
o último sossego novamente
este cheiro de vida embora andasse
a tarde sobre tudo sem sossego
engano
escasso vento
o pó levando ainda de outro dia

Do abrigo do dia novamente
lançados sobre a áspera cratera
dos enganos lavrada do sossego
no uso dos enganos tão ciente
ar doce do amor que leva o pó
do abrigo do dia sobre tudo
frágil disperso fora com o vento
lançados do engano do sossego

Somente já de vida mantivera
não da gruta da tarde as vãs lembranças
o pó do dia
as nuvens os enganos
desabridos da tarde enfim de vida
as crateras apenas despejadas
assim o pó ardia novamente
surdo cansado espesso pó da terra

Não trazia lembranças
sem sossego abrigava de outro dia
da tarde sossegada a escassa vida
De destroços canção somente a vida
não reduz do sossego destruído
de outro dia a lembrança ao pó que a traz


Gastão Cruz

7.28.2009

Grão de incenso



Encontraste com ar cansado
Numa igreja fria e triste.
Ajoelhei-me ao teu lado
– E nem ao menos me viste...

Ficaste a rezar ali,
Naquela imensa tristeza.
Rezei também, mas a ti.
– Que aos anjos também se reza...

Ficaste a rezar até
Manhã dentro, manhã alta.
Como é que tens tanta fé
E a caridade te falta?...


Augusto Gil

Mulata da ilha


Traz um lenço na cabeça
Vem da casa de caniço
Seus pés descalços pisam a areia quente
As missangas no pescoço têm as cores da terra
Tem o andar trepidante essa mulata macua

Tem a beleza de uma sereia
Essa mulata da areia
Traz uma capulana colorida
E tem marcas de mulher africana
Essa mulata da Ilha

É linda essa mulata da Ilha onde nunca o sol se vai
Onde cai a noite como um lençol

A emancipação é seu anseio
A liberdade sua canção
Seu coração não é um seixo

É menina de Nampula
Essa mulata cor de canela
Senhora da Ilha onde a primeira caravela aportou
Os marinheiros enfeitiçados estavam pelo som contagiante do tufo
E viram passar aquela mulata deslumbrante


Dário Caetano de Sousa
Moçambique

Exaltação



Viver! Beber o vento e o sol! Erguer
Ao céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue pra beijar!

A chama, sempre rubra, ao alto a arder!
Asas sempre perdidas a pairar!
Mais alto até estrelas desprender!
A glória! A fama! Orgulho de criar!

Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos estáticos, pagãos!

Trago na boca o coração dos cravos!
Boêmios, vagabundos, e poetas,
Com eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!

Florbela Espanca

7.27.2009

Chorei os homens





Chorei os homens,
mas nenhum, as minhas lágrimas viu,
nenhum as viu correr dentro de mim,
chorei os homens,
com lágrimas já tão cansadas, esperei...enfim...,
que algum as vi-se e as pudesse secar,
que algum as pudesse ouvir,
ouvir somente dizer que foi por amor,
que chorei lágrimas doídas.


Sónia Sultuane
Moçambique

7.26.2009

Caminhas na praia



Caminhas na praia. As sandálias nas dunas
junto à erva agreste de outros dias. O sol
não te queima, não te fere os olhos ao meio-dia.
Soletramos o amor com a letra mais pequena de uma língua
acabada de inventar. Sabem as gaivotas. Sabe o mar.
Era uma vez. Era assim que te agasalhava a noite
e me enrolava nos teus olhos para encontrar
a luz. Não é com a memória que caminho.
As manhas são de névoa como as camarinhas
que cresciam nas dunas. Com quem posso
agora falar de camarinhas? Saborear o gosto
das bagas e dos risos. Vamos apanhando conchas,
castelo, príncipes, borboletas. Vamos perdendo
o que encontramos. As mãos vazias. Os passos leves.
Os olhos crescem como a erva das sandálias.


Rosa Alice Branco

Mola de roupa




Conservei-me afastada do estendal
durante algum tempo.
Sofro de vertigens, por isso
intimidava-me olhar para baixo,
o pátio vazio, restos de flores secas.
Um prédio com dez andares
e ele tinha logo que viver no último,
tendo como horizonte o mar
de terraços e antenas parabólicas.

Quando, chegado com a roupa
da máquina de lavar,
pega em mim,
de suas mãos eu deslizo para o chão.
Apressado, em vez de me apanhar
imediatamente, escolhe outra;
no final, atira-me para o cesto
de verga.

Não é que seja particularmente ardilosa,
mas verdade seja dita, preferia ser
mola de rés-do-chão,
dessas que faça sol ou chuva
sempre prendem a roupa numa corda
estendida no pátio.
O destino quis-me feita de plástico,
com um coração inclinado à melancolia.
Tenho, no entanto, como divisa
antes quebrar que torcer.

Sonho com o dia em que nas mãos da criança
serei um comboio.


Jorge Gomes de Miranda

Sem nome


(para a Sara e a Inês)


há um amor
todo assim
feito de pedacinhos
abrigados no útero,
um amor
sem nome
que ri e que chora
que magoa e que lambe

há um amor
que é de
mãe terra água
sem princípio
nem fim


Ângela Marques

Hoje, quando te vi


Hoje, quando te vi, estavas cismando;
em que cismavas tu, virgem formosa,
desmaiadas as faces cor-de-rosa
e o seio, o gentil seio, inquieto arfando?

Em que cismavas tu? De quando
em quando elevavas ao céu, triste. saudosa,
a vista amortecida, lacrimosa,
para a baixar depois em gesto brando.

No chão jaziam murchas, desfolhadas,
as rosas, que ainda há pouco te toucavam,
agora já por ti abandonadas.

Os últimos clarões do sol douravam
as tuas belas tranças desatadas;
diz, que íntimos anelos te turbavam?


Júlio Dinis

7.25.2009

Os arroios



Os arroios são rios guris...
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas d'água no caminho: bonito!
Dão vau aos burricos,
às belas morenas,
curiosos das pernas das belas morenas.
E às vezes vão tão devagar
que conhecem o cheiro e a cor das flores
que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam
e onde parece quererem sestear.
Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção
como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão
de um Anjo...
Mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.
Os rios tresandam óleo e alcatrão
e reflectem, em vez de estrelas,
os letreiros das firmas que transportam utilidades.
Que pena me dão os arroios,
os inocentes arroios...

Mário Quintana (poeta brasileiro)

7.24.2009

Bandeira branca



Java, Bornéu, Coreia, indochina,
não há mares que nos separem…
na ponta das vossas lanças há um grito!

e esse grito
floresce nos nossos olhos,
baila no nosso peito
e como bandeira branca
palpita nas nossas mãos…

java, Bornéu, Coreia, Indochina,
a que distância estais vós?
tão perto
que uma linguagem nos basta:
a de uma bandeira branca…


Lília da Fonseca
Angola

7.22.2009

Cometa



Um cometa passava... Em luz, na penedia,
Na erva, no insecto, em tudo uma alma rebrilhava;
Entregava-se ao sol a terra, como escrava;
Ferviam sangue e seiva. E o cometa fugia...

Assolavam a terra o terremoto, a lava,
A água, o ciclone, a guerra, a fome, a epidemia;
Mas renascia o amor, o orgulho revivia,
Passavam as religiões... E o cometa passava.

E fugia, riçando a ígnea cauda flava...
Fenecia uma raça; a solidão bravia
Povoava-se outra vez. E o cometa voltava...

Escoava-se o tropel das eras, dia a dia:
E tudo, desde a pedra ao homem, proclamava
A sua eternidade! E o cometa sorria...


Olavo Bilac
Brasil

7.21.2009

Respiração



Na estrada vida que se define
e se joga segundo a segundo
pelo contido tempo de cabine
e pensamento que percorre mundo
à justa medida de cada qual.
Secretos são os caminhos ambíguos
cruzados entre o bem e o mal.
Escuto inconfessos rogos: ligo-os.
O pensamento rasteja. Delira.
Só. Asa metralhadora incendeia
sombras de medo. Mordemos a ira
no asfalto. Com dentes em cadeia.

Orlando Mendes

7.20.2009

Dói fitar-te assim de norte a sul



Dói fitar-te assim de norte a sul
nesta manhã
e ver como o teu corpo se incendeia
dentro dos meus olhos.

Dói fitar-te e de repente explanar-me de baba
mesmo sem pousar-te com as mãos,
nem fazer-te
enquanto a ferida se anuncia ao porto.

Se o dia não parasse de crescer,
escalava-te já as entranhas.
Mas agora não!
Guarda o calor que te mergulha nesta ânsia
para essa véspera que logo reprincipia.

Que o amor não sobrevive à expensa das armas
nem à força deste terror de vivermos iguais,
um na carne do outro.
É preciso guardarmos longe as armas.
As armas não prestam para o tipo de adoração
que te proponho agora.

Guarda tudo isto amor,
até que eu me inspire de novo
noutro voo ao pôr-do-sol!


Adelino Timóteo
Moçambique

7.19.2009

O Verão




Estás no verão,
num fio de repousada água, nos espelhos perdidos sobre
a duna.
Estás em mim,
nas obscuras algas do meu nome e à beira do nome
pensas:
teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó,
sepultada rosa do desejo, um homem entre as mágoas.
És o esplendor do dia,
os metais incandescentes de cada dia.
Deitas-te no azul onde te contemplo e deitada reconheces
o ardor das maçãs,
as claras noções do pecado.
Ouve a canção dos jovens amantes nas altas colinas dos
meus anos.
Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas, os
rituais que previ.
Uma colmeia explode no sonho, as palmeiras estão em
ti e inclinam-se.
Bebo, na clausura das tuas fontes, uma sede antiquíssima.
Doce e cruel é setembro.
Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.


José Agostinho Baptista

7.18.2009

Cantilena



Uma ilha, uma hora
do coração dos meus dias
para sempre vibra fora
do tempo na minha vida.

Flutua perdida hora,
ilha morta dos meus dias,
pelo azul coração fora
no tempo da minha vida.


José António Almeida

Quieres verme bailar?


Morena, só brilhante o cabelo
e a blusa de licra
rente aos seios, do ventre
uma penugem adivinhada
junto ao vazio de onde se soltou
há quinze anos,
deixa que a música se instale
entre suor e suor,
ronda-que-ronda de corpos
vindos do sono bom da tarde,
da luz longa do dia,
do adormecer do sol.
Está sozinha, o busto antes de tudo,
as coxas assentes na bancada,
as mãos no rebordo de madeira,
medindo os passos hesitantes,
os braços que se evitam,
os olhos que se espreitam,
ronda-que-ronda de lutos
e de esperanças - me quieres?
Quieres verme bailar?
E, súbita, rompente e esbelta, em espiga,
ergue-se num sopro,
a nua ponta dos pés na areia de que se fez,
e um hábito antigi
a embala,
numa cadência de tragédia, de saliva e de todos
os cheiros bons
que o seu corpo exala,
as ancas derramadas da cintura,
o olhar por acaso distraído,
os dedos de arabesco em carne pura
troçando, para nós, o desejo
de dançar.


António Mega Ferreira

Sóya



Há-de nascer de novo o micondó –
belo, imperfeito, no centro do quintal.
À meia-noite, quando as bruxas
povoarem okás milenários
e o kukuku piar pela última vez
na junção dos caminhos.
Sobre as cinzas, contra o vento
Bailarão ao amanhecer
Ervas e fetos e uma flor de sangue.
Rebentos de milho hão-de nutrir
as gengivas dos velhos
e não mais sonharão as crianças
com gatos pretos e águas turvas
porque a força do marapião
terá voltado para confrontar o mal.
Lianas abraçarão na curva do rio
a insónia dos mortos
quando a primeira mulher
lavar as trancas no leito ressuscitado.
Reabitaremos a casa, nossa intacta morada.


Conceição Lima
São Tomé e Príncipe
Veleiro

De novo o meu veleiro sobre os mares.
Lá vai galgando as ondas, à procura,
não de oiro ou de rubis mas de aventura,
deixando para trás a Ilha e palmares.

Ao sabor da fortuna e mil azares,
a vida no veleiro é amarga e dura,
mas eu não quero glória nem ventura
e nem sequer a paz dos deuses lares.

Quero aportar a um novo Continente,
com outras ambições, com outra gente,
ao raiar no horizonte a nova aurora.

Avante, pois! Desdobra as tuas velas
como asas no meio das procelas,
e vamos, meu veleiro, vida em fora!


Fernanda de Castro

7.17.2009

Gigões são anantes muito grandes.



Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes porque
uns são um bocado mais outros são um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. – Em quê? – O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão,
e esse nem se sabia se ele cabia ou não.

Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar:
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma teoria:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbimpante era o gigão,
e o anante fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.


Manuel António Pina

7.16.2009

Pequena Ode


À flor dos dias, teu sorriso
desce sobre a planície como chuva habitada
por um sol interior. Nada mais é preciso
para sermos, de novo, só Amado e Amada.

Nada mais é preciso? Uma rosa, talvez:
uma corola aberta na paisagem vazia,
polvilhando de cor o rústico entremez
de que somos actores
apenas por um dia.

Ó mar de sonhos e grades!
(Teu sorriso promete uma evasão sempre adiada).
Ó mar da quietação, ó glauco espelho liso!
Somos dois, outra vez, na praia desolada.

Daniel Filipe (poeta caboverdiano)

???Dúvidas I???




1. De quem é a arma que embala o medo da criança órfã que vagueia pelas ruas frias do nosso remorso?

2. Por que há tantos atalhos para a tristeza
e tão poucos caminhos para a felicidade?

3. Por que se mede o mundo
mas não as tristezas?

4. Como conseguiram os homens
descobrir o abismo da maldade,
e desconhecem a escadaria da bondade?

5. Por que não extraem o ouro do sol os homens?

6. Quantas bíblias há no céu?

7. Por que os grandes aviões não fazem ninhos? E quem já os viu ensinarem os seus filhos a voar?

8. É verdade que a dor se deve regar com lágrimas para a felicidade florir?

9. Como entenderão a minha poesia aqueles que jamais sentirão o meu sangue?

10. Se Deus está em todos os cantos por que olham para o céu os homens?

11. Se quando morremos vamos ao paraíso por que preferimos antes o inferno?

12. O que dizem sobre a morte os abutres?


Eusébio Sanjane
Moçambique

Se alguém bater um dia à tua porta


Se alguém bater um dia à tua porta,
Dizendo que é um emissário meu,
Não acredites, nem que seja eu;
Que o meu vaidoso orgulho não comporta
Bater sequer à porta irreal do céu.

Mas se, naturalmente, e sem ouvir
Alguém bater, fores a porta abrir
E encontrares alguém como que à espera
De ousar bater, medita um pouco. Esse era
Meu emissário e eu e o que comporta
O meu orgulho do que desespera.
Abre a quem não bater à tua porta


Fernando Pessoa

7.15.2009

Poema





espelho, és a terra onde as raízes rebentam de mistérios.
repetes as perguntas que te faço, porquê?, repetes
os olhares sem fim das coisas paradas, repetes o meu olhar.
espelho, és a parede e a pele cansada, és um silêncio a morrer a noite,
és o que ninguém quer, a verdade mais triste e cansada por dentro.
repetes as perguntas que te faço, porquê?, repetes
a desgraça, a miséria e o desespero.
espelho, quis conhecer-te e perdi-me de ti.

José Luís Peixoto

A lição de poesia


Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.

Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.


A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.

Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.


A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.

A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis − naturezas vivas.

E as vinte palavras recolhidas
nas águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.

Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.


João Cabral de Melo Neto
Brasil

Tu vens todos os dias à noitinha



Tu vens todos os dias à noitinha
e despes-te com tanta lentidão
com tanta lentidão que se adivinha
a forma do teu próprio coração.

E quando vais é já noite fechada
não sei se vou ficar se vou sair
não posso ter a alma sossegada
sem saber se amanhã tornas a vir


David Mourão-Ferreira

Sedução



A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.


Adélia Prado
Brasil

7.14.2009

As palavras




Lina,
distante dezanove dias de água,
milhas marítimas que só a lembrança vence,
teus desvanecidos traços tento definir
pois de ti só possuo, intensamente, a imagem
de um lenço branco, acenando no cais.

Assim, te completo com as quase delidas faces
dos companheiros de infância,
verdes rostos moldáveis na memória,
e os gestos e os moldes e as falas
de todos os que, vivos ou mortos, se cerro os olhos
vejo e ouço...
Deste modo, escuto ainda
o trilo de flauta que,
no recôncavo da mata à beira do córrego,
pastorzinho negro ingenuamente improvisava,
a restolhada bravia dos dedos longos do vento
lascivamente despenteando a margem verde dos canaviais
— e vejo as barbudas figueiras bravas de ao pé do pomar
onde, nas tardes de Verão, a cega-rega das cigarras
nos ficava zunindo nos ouvidos.

E os rouxinóis...
Não, não e não!
Só sei dar a tudo, coisas vivas ou inanimadas,
aves, folguedos, frutos, instrumentos, localidades,
os saborosos nomes que juntos aprendemos, e não outros:
bokota, shikumbela, timbila, Zavala,
pois, só assim, poderei evocar
com as palavras mesmas que no alvoroço da descoberta
à boca nos acudiam
(Lina, Lina, uma gala-gala naquela mafurreira!)
as nossas «grandes e terríveis aventuras».

Quando um dia, amiga, com doces termos
tivermos baptizado, escrito pela primeira vez
o nome de bichos e aves, rios e ruas,
gentes e gestos, danças e doces, frutos e factos
e os quisermos preservar na Arca-de-Noé da Poesia
será mais rico o colorido do nosso canto
pois nós, gémeos no amor da transfiguração,
pegando numa irisada palavra
a voltearmos nas mãos como precioso diamante
ou como irmã mais nova
já que do ventre da nossa mãe a recebemos.

Fonseca Amaral
Moçambique

Quando é Grande o Poderio da Solidão


Palm Study II Art Print by Judeen

Quando é grande o poderio
da solidão, ao seu lado
estanca a aura exterior do brilho
que a fica aí preservando.
Às vezes, outra se avizinha. O sítio
da vizinhança contamina o espaço.
E uma como que luz que antecedesse o espírito
remove o vácuo,
de forma a ele se ir constituindo
espera de verbo. Âmbito
a iluminar-se recinto
aonde as solidões, aproximando-
-se a frequência aumentassem do alto poderio
e estancassem ao bordo granítico do canto.

Fernando Echevarría (poeta timorense)



Quando a melancolia for doce, é porque é grande.
Todos podem, então, entrar por ela.
E, ao mesmo tempo, irão por entre as árvores
com a estúrdia dos lenços nas clareiras,
sem que, por isso, se perturbe a grande
doçura. Que a tristeza
nem ja é triste. Está-se
movendo para onde somente grande seja.


Fernando Echavarria (poeta timorense)

7.13.2009


Mukai




1

Corpo já lavrado
eqüidistante da semente
é trigo
é joio
milho híbrido
massambala

resiste ao tempo
dobrado
exausto
sob o sol
que lhe espiga
a cabeleira.

2

O ventre semeado
deságua cada ano
os frutos tenros
das mãos
(é feitiço)
nasce
a manteiga
a casa
o penteado
o gesto
acorda a alma
a voz
olha p'ra dentro do silêncio milenar.

3

(Mulher à noite)

Um soluço quieto
desce
a lentíssima garganta
(rói-lhe as entranhas
um novo pedaço de vida)
os cordões do tempo
atravessam-lhe as pernas
e fazem a ligação terra.

Estranha árvore de filhos
uns mortos e tantos por morrer
que de corpo ao alto
navega de tristeza
as horas.

4

O risco na pele
acende a noite
enquanto a lua
(por ironia)
ilumina o esgoto
anuncia o canto dos gatos
De quantos partos se vive
para quantos partos se morre.

Um grito espeta-se faca
na garganta da noite

recortada sobre o tempo
pintada de cicatrizes
olhos secos de lágrimas
Dominga, organiza a cerveja
de sobreviver os dias.


Ana Paula Ribeiro Tavares (poetisa angolana)

Setembro, fim de tarde

Dandelions Art Print


a varanda era o respeito e o silêncio de onde a casa se erguia.
a minha mãe talvez fosse a sua própria voz. eu era muito novo.

a paisagem e a vida diante de mim. os pombos levavam o
meu peito em círculos no céu.

e havia uma fonte, porque há sempre uma fonte distante
na voz da minha mãe.


José Luís Peixoto

7.12.2009

Auto-Retrato



Este retrato tem barulho de escada rolante
que se cala em movimento

o chão dos achados
rodeia o mapa de flores pesadas
e os degraus germinam nos pés
à cata de gente média
passageira imóvel dos factos

cresce com o excesso latino
a morte vitalícia de um céu mecânico

a espera é d'aço menino
como um século corporal
vestido de santos e arcanjos
entre os pardais da cama

os troféus escondem os donos
e pensam grosso à sobremesa

sou um homem casado
com dois ou três princípios
que não têm fim.


Boaventura de Sousa

Para sempre te amarei


Por mais voltas qu' o velho mundo der
por tudo quanto, enfim, acontecer
nunca ocorrerá m' esquecer de ti
tu a mulher mais simples que já vi.

Tive ciúmes por ti daquelas rosas
como tu sempre belas e charmosas
não ligando aos espinhos obviamente
já que o perfume teu está presente.

Não faltam por aí amores perdidos
meu coração pela vida está desfeito
que as lágrimas secaram a preceito...

Porém, pela verdade dos sentidos,
a única certeza que eu terei
será que para sempre te amarei!


Frassino Machado

7.11.2009

Epigrama



Há só mar no meu País
Não há terra que dê pão.
Mata-me de fome
a doce ilusão
de frutos como o sol.

Uma onda, outra onda
o ritmo das ondas me embalou.
Há só mar no meu País
E é ele quem diz
E é ele quem sou.


Afonso Duarte

Descomportamento linguístico


Não quero saber como as coisas se comportam.
Quero inventar comportamento para as coisas.
Li uma vez que a tarefa mais lídima da poesia é a
de equivocar o sentido das palavras
Não havendo nenhum descomportamento nisso
senão que alguma experiência lingüística.
Noto que às vezes sou desvirtuado a pássaros, que
sou desvirtuado em árvores, que sou desvirtuado
para pedras.
Mas que essa mudança de comportamento gental
para animal vegetal ou pedral
É apenas um descomportamento semântico.
Se eu digo que grota é uma palavra apropriada para
ventar nas pedras,
Apenas faço o desvio da finalidade da grota que
não é a de ventar nas pedras.
Se digo que os passarinhos faziam paisagens na
minha infância,
É apenas um desvio das tarefas dos passarinhos que
não é a de fazer paisagens.
Mas isso é apenas um descomportamento lingüístico que
não ofende a natureza dos passarinhos nem das grotas.
Mudo apenas os verbos e às vezes nem mudo.
Mudo os substantivos e às vezes nem mudo.
Se digo ainda que é mais feliz quem descobre o que não
presta do que quem descobre ouro -
Penso que ainda assim não serei atingido pela bobagem.
Apenas eu não tenho polimentos de ancião.


Manoel de Barros
Brasil

7.10.2009

Nocturno




Devagar, devagar... A noite dorme
e é preciso acordar sem sobressalto.
Sob um manto de sombra, denso, informe,
o mar adormeceu a sonhar alto.

Devagar, devagar... O rio dorme
sobre um leito de areias e basalto...
Malhada pela neve a serra enorme
parece um tigre a preparar o salto.

E dorme o vale em flor. Dormem as casas.
Nenhum rumor. Nenhum frémito de asas.
Nada perturba a noite bela e calma.

E dormem os rosais, dormem os cravos...
Dormem abelhas sobre o mel dos favos
e dorme, na minha alma, a tua alma.


Fernanda de Castro

7.09.2009

No rosto da criança

(No massacre de Kamabatela)


No céu convém
a nuvem
E na terra
o sêmen da lança
No rosto da criança convém
o riso
E não o gume da catana
inciso

Arnaldo Santos (poeta angolano)
(1986)
Estátua Falsa

Statue of Woman with Pitchers Ballustrade, Woodland Melford House, Dorset Photographic Print by Jacqui Hurst

Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distancia.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de mêdo!

Sou estrêla ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'

7.08.2009

O tempo


O tempo
escava sobre ti.

Eras e és o rio,
montante cavalo
de ondas.

E vale,
mulher lavando,
rectilínea salina.

A foz, longe ou perto.
Como acompanhar
tuas ondas?


António Osório

7.06.2009

Para esta Fogueira de Letras



Vem, das estradas longínquas da minha terra
Vem, das estradas do mar, do céu e do infinito
Vem, célere cruzando
As inúmeras vigas dos tempos e dos espaços
Na diversidade de terras e dos tempos que nos barra
Vem, falemos só uma lingua

Vem, das ruas claras das cidades
Na respiração pura das acácias e micaias da minha
terra
Vem, da vegetação densa dos cactos
Das matas que eternizam a nossa máxima plenitude
Vem, das valas que sulcaram impunes nossa terra,
Drenaram nossa esperança, mas vem

Traga os ventos que morrem impregnados na ânsia
Traga também os tempos cravados na lápide
Traga consigo os destroços inesquecíveis do verbo
E do verso que já se desfaz em clamor
Vem,
Ganhem forma os ventos!

Na calada da noite ou com sol ardente
Vem,
Surja poeta como lua subtil
E ilumine nossas mentes à volta desta fogueira
Traga na memória dos tempos
A dócil palavra dos povos
O canto perene das almas

Vem,
Traga os destroços do meu país por aí recalcados
Na imensa vegetação de versos
Traga da espuma homogênea do índico
A poesia e o clamor de África, traga meu irmão!
Traga do meu Índico sedento
A maresia que nos incha as almas de vertigem
Traga, meu irmão, traga
Quem exaltará a dor e cl(amor) do nosso povo
minguado?
Quem exaltará o peito habitado de Tchopo
Ritmo que dançavamos á roda a madrugada na
nossa terra?
Quem exaltará no peito,
Ngalanga que retumbava ao entardecer na nossa
zona?
Aquela ngalanga que tocavas e evocava Duma Ka Zulu se lembra?
Quem exaltará nos sonhos
Nossa casa possessa do espirito Ndaw?
E a nossa timbila de zavala
Que tocava e dançavamos ao ritmo chope, então?
Canta nesta fogueira seu povo
Conte sua história nesta fogueira antes que se
apague
É a podridão do nosso povo, não é?
fale,
Fale então da podridão dos negros
Á falacia com que se inventa um sorriso
Quando se inicia uma história, uma lenda, um conto...
Então, Conte!
Cada história um povo
Cada verso um rosto
Cada voz um timbre

Nesta brasa de letras que se esfuma a poesia
Traga essa chama que a alma atea
Nesta fogueira da alma que ao texto ilumina
Traga o verso e nada mais
Na calada da noite,
Ou com o sol ardente, vem

Traga a voz que dilacera os conceitos
Traga a força apocaliptica do verso comprimida em
suas mãos
Traga de tudo que nos é consentido saber
A poesia será o doce orvalho
Que nos delicia delicadamente as almas
A cada verso que se liberta do seu peito pulmonado

Para esta fogueira,
Traga aquela melodia subtil
Com que os corvos pacientaram as noites cegando
aquelas melodias, com que as cigaras cantaram
e iluminaram as noites de Nkaringanas

Nkulukumba,
Desça tatana dos céus relampejando
Solte na sua luz um pedaço de tempo que já
perdemos
Fale da inocência dos versos de ontem e de hoje
oprimidos
Do folclore do nosso povo escaldado
Tatana tatana,
Há homens que incendiaram nossa palhota de preces
Homens que no arminho recalcaram pedra
Há homens que no charuto tostaram uma palavra
Então, traga a semente
Que germinará a casa e árvore poética dos puerís

Tatana tatana,
Desça macumba das nossas mínguas e soluços
E nos aponte com destreza mesmo ofídica
Que aquele oficio é poesia
Que aquele minguado é poeta
Com os versos guardados no seu bolso só para ele!
Traga tatana esse poeta
Traga da cabeceira os sonhos desse poeta
As lágrimas dum poeta pingados na pedra
Traga dos escombros também um verso
Da palavra uma míngua, do verso um amor
Da poesia as almas
Dê-me esse trago agora tatana
Antes que o vento maldito nos apague
Nossa fogueira de lenha
Quero dizer um poema também
Quero contar uma história também

Traga também seu xiphefo tatana
Que ilumina estrelas aqui cintilando
Tantas cobertas de neve que não as vejo
Traga tatana depressa
Tio mbalele quer dizer seu poema
Tio Mbalele quer contar sua história
Tio Mbalele quer cantar
Traga tatana traga ... Eh, já começou!
-Nkaringana wankaringana!
-Nkaringana wankaringana!


Noé Filimão Massango
Moçambique